domingo, 19 de agosto de 2012

O modelo cartesiano: Crítica ao modo científico de pensar



" E é nisto justamente que consistem o método e o seu progresso: reduzir toda a medida (toda a determinação pela igualdade e da igualdade) a uma série que, partindo do simples, faça aparecer as fiferenças como grau de complexidade. O semelhante, depois de ter sido analisado segundo a unidade e as relações de igualdade ou de desigualdade, é analisado segundo a identidade evidente e as diferenças como graus de complexidade. (...) Tudo isto teve grandes consequências no pensamento ocidental. O semelhante, que fora durante muito tempo categoria fundamental do saber - a um tempo forma e conteúdo do conhecimento - , dissocia-se numa análise feita em termos de identidade e de diferença; além disso, quer indirectamente por intermédio da medida, quer directamente e como em pé de igualdade, a comparação é referida à ordem; enfim, o papel da comparação já não é revelar a ordenação do mundo, pois ela processa-se de acordo com a ordem do pensamento e vai naturalmente do simples para o complexo. deste modo, toda a episteme da cultura ocidental se acha modificada nas suas disposições fundamentais. E, em especial, o domínio empírico onde o homem do século XVI via ainda estabelecerem-se os parentescos, as semelhanças e as afenidades e onde se entrecruzavam sem fim a linguagem e as coisas - todo esse campo imenso vai tomar uma nova configuração. Pode-se, se se quiser, designá-lo pelo nome de racionalismo; pode-se, se não se tiver na cabeça mais do que conceitos já feitos, dizer que o século XVI assinala o desaparecimento das velhas crenças supersticiosas ou mágicas, e a entrada, enfim, da natureza na ordem científica. mas o que cumpre apreender e tentar restituir são as modificações que alteraram o próprio saber, nesse nível arcaico  que torna possível os conhecimentos e o modo de ser daquilo que se procura saber."

Michel Foucault, As palavras e as coisas, Ed.70, Lx, pág 108 e 109
Tradução de António Ramos Rosa

sábado, 18 de agosto de 2012

Editorial


"O Sonho de Dickens"

Apesar de estar em férias, hoje, com temperaturas amenas e ecos de praia, exactamente hoje, influenciada pela doçura do Estio, estou decidida a criar um espaço agradável para os professores e para os meus alunos. Um espaço de Filosofia mas também de Literatura, Arte e Cinema, para podermos comunicar e saciar a nossa curiosidade. Eu sei que estamos todos fartos de blá, blá, blá, conversas e discursos, esta letra miúda difícil de ler, estas ideias vagas, pesadas e, no entanto, capazes de nos engrandecer, de nos acordar para outros mundos distantes onde a nostalgia da nossa presença se faz sentir. Não deixar morta a palavra que já foi viva e forte, evocar essa montanha mágica que foi e é a condição humana, curiosa, desafiante, promissora.